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Economia

8 de abril de 2021

4 Minutos de leitura

Depois do carnaval, a dura realidade

“You look so tired, unhappy

Bring down the government

They don’t, they don’t speak for us

I’ll take a quiet life

A handshake of carbon monoxide

No alarms and no surprises

Silent”people say
You’re ridin’ high in April, shot down in May
But I know I’m gonna change that tune
When I’m back on top, back on top in June”

(Radiohead – No Surprises)

Quarta-feira de Cinzas. O otimismo da sexta parece dar lugar a um sentimento um pouco mais melancólico. A semana vai voltando ao normal e começamos a pensar que, o fato de não ter tido carnaval nas ruas talvez não tenha sido assim de todo mal … Pelo menos estamos vivos (ano passado eu estava mais morto que vivo, certeza).

A alegria, a empolgação, a ansiedade da sexta-feira pré-carnaval parece dar lugar ao comedimento e às preocupações do dia-a-dia. A realidade bate na porta.

O imaginário carnavalesco de um Brasil que pode dar certo, conforme falei na última sexta, abre alas para um futuro que, embora promissor, carrega consigo muitos riscos, alguns dos quais pretendo mencionar aqui.

(Sei que Radiohead é bem triste, mas pior mesmo seria associar o texto com Todo Carnaval Tem Seu Fim. Ou torcer para o náutico. Choose your weapon)

Depois dessa breve digressão, volto ao que importa: Temos riscos sérios. E se tudo der realmente certo, vamos ter mais um “voo de galinha”, onde as coisas dão certo no Brasil, mas sempre com data marcada para começar a dar errado.

Precisamos urgente de reformas administrativas, tributárias, além de aprovar PEC para contenção de gastos com pessoal nos estados e municípios… Tudo isso já sabemos e a discussão mais detalhada é assunto para outro dia. O ponto é: Em função dos gastos extraordinários para o enfrentamento da pandemia, o nosso problema fiscal foi agravado. Em menos de um ano, gastamos o equivalente a toda economia advinda da reforma da previdência (aproximadamente R$ 800 bi). E,
olhando retrospectivamente, o que é muito mais fácil, gastamos muito em comparação com países emergentes em situação semelhante à nossa. Em relatório, o Fundo Verde estimou que em agosto, por exemplo, a renda total dos domicílios que receberam o auxílio foi quase 75% maior do que a renda habitual, em um ano normal. O que leva a crer que os auxílios ocorreram em um valor acima do ideal.

Outro problema é a continuidade do auxílio até o dia em que todos estejamos vacinados. A ideia é reduzir a quantidade de beneficiários para 40 mm (contra os 67 mm do ano passado) e também o valor a ser recebido: R$ 300,00.

 

O auxílio é extremamente necessário, ninguém aqui está falando o contrário. A questão é a consequência disso nos gastos do governo, que já eram altos! Há de se ter contrapartida!

94% dos gastos do orçamento federal são obrigatórios, restando 6% de gastos discricionários, os quais o governo teria mais liberdade para reduzir. Ou seja, pouquíssimo.

Desde 2014 gastamos mais do que arrecadamos em impostos (déficit primário). Herança maldita. Após a aprovação do teto de gastos e reforma da previdência, estávamos conseguindo voltar, lentamente, a ter um saldo fiscal positivo. No entanto, a tendência, agora, é que, tudo no mais constante, só haveríamos de ter superávit primário em 2026.

A esperança é que algumas privatizações saiam do papel e que as reformas mencionadas também saiam do campo das ideias. Do contrário, caso nada seja feito nesse sentido, podemos passar por situação semelhante ao governo Macri na Argentina, que chegou com bastante apoio e empolgação e, com o atraso das reformas e a perda de apoio popular e político, acabou por não fazer nada. #SaudadesTemer .

Falando especificamente dos mercados, os riscos aqui mencionados parecem ter feito preço via depreciação do real e steepening (inclinação) da curva de juros futura (empréstimos e credibilidade soberana ficam mais caros ao longo do tempo). A bolsa em si não parece precificar esse cenário (a não ser a bolsa cotada em USD). A sensibilidade dos títulos públicos a um cenário de descontrole fiscal é, lógico, bem maior, dado que sempre existe a chance de calote de fato ou calote branco (via aumento de inflação para repagar dívidas).

Sigamos nossas vidas, sem ignorar a realidade.

Com alardes e com surpresas, como tem que ser. Por favor.

Qualquer dúvida, estamos à disposição por meio da caixa de comentário.

Até a próxima!

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