“Is this the real life?
Is this just fantasy?
Caught in a landslide
No escape from reality
Open your eyes
Look up to the skies and see
I’m just a poor boy
I need no sympathy”
(Bohemian Rhapsody – Queen)
“E aí, é pra comprar?” “Você é louco por não ter Bitcoin” “Caiu 20%, é um bom ponto de entrada, vai subir mais”.
Talvez vocês, que acompanham nossos posts semanais, devam saber. Se não tecnicamente, mas intuitivamente: Existem dois tipos de erros. O erro do tipo 1 e o erro do tipo 2.
O Erro Tipo 1 é rejeitar uma hipótese que se mostra, depois, como verdadeira. O Erro Tipo 2 é tomar como verdade uma hipótese que é falsa. Qual a diferença? No primeiro caso, eu não perco dinheiro. “Não comprei ações do Banco Inter porque achava caro e não achava mais competitivo que um outro banco de modo que justificasse o prêmio sobre o qual estava sendo negociado”. OK. Infelizmente foi meu caso. Errei por não ter comprado, mas por outro lado não perdi dinheiro, apenas deixei de ganhar. A ação multiplicou por 16x desde então.
O segundo erro é muito pior. “Acho que OGX é uma boa empresa, vou comprar e fazer preço médio”. Nesse caso… Você se ferrou! A sua hipótese era falsa e você a tomou como verdadeira.
Todo esse preâmbulo serve apenas para dizer: Eu posso estar terminantemente errado, o futuro terá mais propriedade para falar do que eu. Mas não perco nada estando errado. Eventualmente posso no máximo deixar de ganhar.
Vim falar sobre bitcoin. Precisamente fazendo das palavras de Ray Dalio em “What I think of Bitcoin”, as minhas. Os argumentos técnicos que subsidiam o investimento nisso que se diz “criptoativo” deixo de lado devido à minha ignorância no assunto. Vou pensar probabilisticamente, como tento fazer na maioria das vezes.
Bitcoin é uma opção, sem vencimento, que pode se desvalorizar 80% ou mais. Se você coloca pouco do seu patrimônio nisso, tudo bem. Pelo menos você entendeu o sentido da coisa.
Não é moeda (alta volatilidade, baixa aceitação). Não é safe-heaven. Não é proxy de ouro (veja o gráfico de quanto o ouro proteje as carteiras em momentos de crises no gráfico abaixo).
Parece ser proxy de excesso de liquidez e aumento da base monetária (é o famoso beta alto). Se houvesse um aumento de juros, no Brasil e/ou no mundo o carrying passaria a ter valor e o custo de estoque e armazenamento passa a tornar a moeda menos atrativa. Hoje é “indiferente” aplicar em um Treasury bill pagando 0% de juros ou carregar uma moeda que não me dá renda, acompanhada de custos de estoque/carregamento. O yield voltando a ser positivo nos títulos… O jogo pode mudar.
O volume de negociação do ativo cresce muito ao longo do tempo, mas o número de investidores mais de longo prazo ainda é pequeno (boa parte são traders de curto prazo).
95% dos bitcoins estão nas mãos de 2% da população. Qualquer movimento desses grandes players pode refletir muito rapidamente no preço, aumentando a volatilidade e surgindo espaço, inclusive, para front runners.
Com traders de bitcoin operando muitas vezes alavancados, o cenário parece bem semelhante à queda recente, em 2017. Basta ver o nível de empréstimos com garantias de margens nas principais corretoras que operam o ativo.
Se pudéssemos entender o “fundamento” por trás do bitcoin, preocupações com “fluxo” de capital seria secundário. Mas nesse caso, o fluxo é o próprio fundamento. Algo como a Teoria da Reflexividade de Soros: quanto mais sobe o preço, melhor parece ser o bitcoin.
No mais, bitcoin, nesses preços, é uma opção bem ITM (In-the-money). Em outras palavras, estaria caro, dado que estão atribuindo um valor enorme à moeda cujos fundamentos parecem não corresponder às expectativas (ultrajantes). Parece que estamos distantes da vida real, inseridos em uma profecia auto-realizável. O preço se torna o fundamento. É sempre bom abrir os olhos, olhar pro céu e ver.
“Mama, life had just begun…”
Qualquer dúvida, estamos à disposição por meio da caixa de comentário.