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30 de agosto de 2022

5 Minutos de leitura

Bear market rally

 

Vamos lá, existem cinco tipos de pessoas:

 

(1) As que esperam o mundo mudar, que é retratada abaixo na música de John Mayer:

 

“We keep on waiting, waiting on the world to change”

“Nós continuamos esperando, esperando o mundo mudar”

 

(2) As sonhadoras, segundo John Lennon:

 

“Imagine all the people living life in peace”

“Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz”

 

(3) As que estão perdidas no tempo-espaço, conforme Cassia Eller:

 

“Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim, tão diferente”

 

(4) As que pensam que vão mudar o mundo, enquanto o mundo simplesmente as muda, bem definidas abaixo por Dave Matthews:

 

“Making plans to change the world while the world is changing us”

“Fazendo planos para mudar o mundo enquanto o mundo mudava a gente”

 

(5) E, por fim, as realistas. Essas foram definidas por Belchior e emblematicamente interpretadas por Elis Regina:

 

“É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”

 

Sim, o novo sempre vem, mas, infelizmente, poucos vão notar. Ou como diria Ernest Hemingway: change happens gradually, and then suddenly. É que nem o sapo que não sente que a água do caldeirão está esquentando e por isso não tenta sair.

 

Como diria Rubem Alves: “O que sabemos […] nos faz ver o novo através dos óculos do velho, o transforma no que sempre vimos, e tudo continua do jeito como sempre foi”. Isso é mais ou menos o que eu chamo de pensamento inercial, as pessoas pensam que aquilo que aconteceu pra trás, vai se repetir para a frente. Ou seja, o que está subindo, vai continuar subindo e o que está caindo, assim também vai continuar.

 

Não por acaso, grande parte das projeções erram, pois sempre ocorre uma coisa inesperada no meio do caminho. E o mais engraçado é que os economistas se desculpam pela imprevisibilidade ajustando as suas previsões, que no futuro serão ajustadas novamente. Só para fazer Nassim Taleb gargalhar, afinal, talvez não exista um teórico que seja tão crítico com as previsões. Algumas frases do autor ajudam a exemplificar:

 

“Se pela manhã você souber com precisão como será o seu dia, você está meio morto”.

 

Taleb também é extremamente crítico com previsões jogadas na internet por causa da falta de skin in the game (pele no jogo), por isso ele diz: “nunca peça opinião, previsão ou recomendação de investimento a alguém”.

 

Sendo assim, se faz importante aqui um disclaimer, afinal, vou falar de futuro. Você sabe o que isso significa.

 

Pois bem, tudo isso para falar de uma coisa chamada “bear market rally”, ou o “rally de mercado de baixa”. Que, em suma, é aquela pernada pra cima que o mercado dá quando pensa que todos os problemas acabaram e que o show tem que continuar. Não por acaso, de junho a agosto desse ano, o S&P subiu mais de 17%.

 

 

Isso certamente faz as pessoas voltarem a pensar em ter ações lá fora, faz o mercado se aquecer novamente e os americanos voltarem a sorrir. E isso representa perigo, pois, antes de tudo, duas coisas precisam ser ditas:

(1) o principal mecanismo de política monetária do FED são as condições financeiras;

(2) mais de 50% da população americana investe em ações.

 

Ou seja, a alta da bolsa só dificulta o trabalho do FED de fazer o papel de chato, chamar o síndico e acabar com a festa. Bolsa pra cima e juros futuro para baixo significa população ganhando e gastando mais. E a inflação, meus amigos, precisa voltar pra a meta de 2% de um jeito ou de outro, custe o que custar. Há quem diga que o arrefecimento da inflação de 8-9% para 4% é relativamente simples, o problema é reduzi-la mais que isso e colocá-la dentro do centro da meta.

 

Por isso, a animação do mercado faz com que o tom do FED precise ser cada vez mais duro, é como quem precisa tirar o brinquedo das mãos de uma criança. Por incrível que pareça, os relapsos de euforia só reforçam a tese de recessão.

 

Sendo assim, reforço a importância de ser realista nesse momento. O risco continua alto para algo que está precificado levemente acima da média histórica. Lembra dos cinco tipos de pessoas que falei? Qual tipo de pessoa você prefere ser? Eu fico com Elis (o novo sempre vem), mas sempre com uma leve pitada de Rubem Alves.

 

Por Túlio Cavalcanti

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