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Economia

16 de junho de 2021

5 Minutos de leitura

REAL: “Pretty Fly” Para uma Moeda Emergente

 

“And all the girlies say I’m pretty fly for a white guy”

(The Offspring – Pretty fly (for a white guy)

 

Uno, dos, três, cuatro, cinco, cinco seis… Para onde vai o dólar?

Essa é a pergunta que gostaria de te responder com certeza. Muito! Mas a resposta sincera é: ninguém sabe. Você poderia muito bem parar o texto por aqui. É isso. That’s all folks.

Minha proposta, no entanto, acima e além de qualquer pretensa conclusão sobre o preço do dólar, é explicar os fundamentos que interferem em sua cotação e o que os números nos dizem hoje. Se a realidade será uma extensão do que acredito, depende de muitas variáveis, inclusive depende que todas estas variáveis permaneçam constantes ao longo desse período.

Os modelos de projeção do dólar levam em consideração preços internacionais de commodities, o valor global do dólar, diferencial de juros brasileiros em relação ao americano e o risco país medido pelo CDS spread de 5 anos. Estou utilizando como referência as variáveis hoje utilizadas pelo Fundo Versa para projeção da cotação do dólar. Em geral os modelos tomam como referência variáveis semelhantes, muito embora com pesos distintos, variando caso a caso.

Vamos analisar cada variável isoladamente.

  1. Valor Global do Dólar Contra Cesta de Moedas Emergentes e o Valor do Dólar Contra o Real

O dólar passou por um processo de forte desvalorização frente à cesta de moedas emergentes, naturalmente fruto da impressão monetária (quantitative easing) iniciada em 2020, somado à política monetária expansionista com o FED Funds Rates indo a zero. O real, por outro lado, não acompanhou, por conta do aumento dos riscos fiscais e políticos. Analisando grosseiramente, parecer haver espaço para uma convergência.

2. Preço do Minério de Ferro e Outras Commodities

Fonte: Bloomberg / RIconnect

O crescimento do Brasil está fortemente relacionado com o preço praticado pelas commodities no mercado externo. Isso é um aspecto bastante positivo para nossa economia, não por acaso, também muito bom para a nossa balança comercial, que está com superávit na máxima histórica desde 2010!

 O que acaba acontecendo nesses casos é bem interessante para o nosso país: Se o real desvaloriza tanto a ponto de beneficiar tanto assim a exportação, o processo inverso acaba ocorrendo no futuro, tudo no mais constante. Em outras palavras, com o preço do minério de ferro mais alto em dólares e com o real tão desvalorizado, exportações são mais atrativas e importações, menos. Com isso, o dólar se desvaloriza em relação ao real (se analisado esse aspecto isoladamente) no futuro. É o chamado Dutch Disease (ou doença holandesa).

O termo foi cunhado em 1977 pela The Economist para descrever o declínio do setor de manufatura depois da descoberta de um enorme campo  de gás natural em 1959 na Holanda. O país começou a exportar muito gás natural, fortalecendo a moeda e quebrando indústrias que dependiam visceralmente da moeda local desvalorizada (como a indústria manufatureira).

3. CDS Brasil 5 Anos

Fonte: Apen Capital

Aqui podemos verificar o risco país. Quanto maior, pior. Quanto maior, mais caro é o seguro contra calote no nosso país (Risco Brasil – Credit Default Swap). Podemos ver que, apesar da recente alta em meados de mar/2021 (em função das declarações com teor populista do atual presidente, sugerindo interferência nos preços dos combustíveis, somado ao possível retorno do presidente Lula à disputa política em 2022) a tendência parece ser de queda. Quanto menor o risco, mais o real tende a apreciar em relação ao USD.

4. Diferencial de Juros (FED Fund Rates) e SELIC

Fonte: Apen Capital

Hoje tivemos a alta de 75 bps da SELIC (possivelmente acomodando o câmbio) por conta de uma atividade melhor, também inflação em bens industriais acima do esperado. No caso dos Estados Unidos, por lá o FED decidiu manter a taxa de juro no atual patamar, sugerindo possíveis altas marginais ao longo dos próximos anos. Permanece o discurso de que a inflação atual é “temporária”. A ver.

Fato é que o prêmio de juros do Brasil sobre os juros nos Estados Unidos, caso a SELIC volte aos níveis de 6,5%, conforme especulado pelo mercado, passa a ser maior do que alguns anos atrás (2019). Esse prêmio aumenta a atratividade do carrying trade e possivelmente maior fluxo de dólares indo para reais ao longo do tempo (Carrying trade, em essência, é quando um investidor vende uma moeda que paga pouco juros e compra uma que paga um cupom – juros- maior).

Cabe sempre ressaltar. Dólar sempre teve e terá espaço relevante no Asset Allocation de nossos clientes, o que devemos sempre preservar. O dólar diminui a volatilidade da carteira quando contraposto a uma exposição em bolsa, por exemplo. Além disso, melhor ficar estruturalmente comprado em Dólar do que em Reais, concordam?

O que fiz foi um exercício para que possamos, finalmente, entender quais variáveis interferem no preço do dólar. Sempre bom lembrar… Tudo que falei tem uma baita premissa implícita: “Tudo no mais constante”. Se perdemos os fundamentos, ou nosso presidente fala alguma besteira (ou os dois), toda a teoria se perde e os investidores, menos dispostos a riscos, correm para aquilo que consideram proteção: Ouro e dólar.

The world needs wannabes

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